sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Condenando releituras

← Postagem anterior Próxima postagem → 




 Bem, eu postaria a terceira parte do conto As Luas de Zemi, mas um artigo da revista Época online me incomodou tanto que resolvi escrever o meu próprio a respeito. Trata-se das releituras de clássicos (tais quais os gêneros da Ficção Alternativa e Mashups), que se tornaram tão comuns depois do sucesso de Orgulho, Preconceito e Zumbis (foto acima), releitura do clássico de Jane Austen, Orgulho e Preconceito.

Discordo sobremaneira do artigo Praga de Letras, de Luís Antônio Giron. Nele, o autor crucifica quatro autores brasileiros que aderiram à onda, ao (re)lançarem clássicos brasileiros permeados de temas da cultura pop, como vampiros, mutantes e extra-terrestres. E assim, comete o grande equívoco de seu argumento: passa a criticar as obras e a comparar sua qualidade com a dos originais. Giron confunde obra e gênero, acaba condenando toda a Ficção Alternativa e os Mashups por causa de obras - segundo ele - sem qualidade.

Arte vem do latim Ars, "técnica", "habilidade em determidado trabalho" (tradução livre daqui). Arte é técnica, não tema. Releituras sempre existiram, e nem por isso são menos do que os trabalhos em que foram baseados. Ora, Romeu e Julieta é a mesma história de Píramo e Tisbe, e eu poderia citar tantas mais. O fato de ser uma releitura não desmerece a obra, somente a obra em si pode fazê-lo. O que Giron faz é criticar os quatro livros, e nada mais.

Em determinado momento, o autor se pergunta:
    "Será que algum professor vai se levantar para protestar contra essas barbaridades? Eu gostaria de que a Academia Brasileira de Letras se manifestasse oficialmente contra esses crimes lesa-arte."

Até entendo a sua postura. Incomoda ver uma obra de arte da qual muito se gosta ser alterada. Se a alteração não mantiver a qualidade, tanto pior. Mas, ainda assim, defendo com vigor a liberdade da Arte e dos Artistas de falarem sobre o que bem quiserem. Imagine se Romeu e Julieta tivesse sido proibido...


_____________________________________________________________
Uma observação: liberdade artística, sim, desde que não se ataquem os direitos autorais - nenhuma das obras supracitadas o faz.

Para saber mais sobre releituras, Ficção Alternativa e Mash-ups, leia o artigo da Ana Cristina.



Um comentário:

  1. Releituras são sempre difíceis, principalmente quando a gente SABE que o são...
    Aliás, não vejo ninguém reclamando das histórias infantis da Disney, tão clássicas para nós, mas que datam praticamente (ou são mesmo) da época medieval... Com "algumas" alterações, é claro, pois as crianças de hoje são diferentes das de outrora.
    Mas então, é isso. Acho que a crítica tão forte se faz por se tratar de livros que não estão no mainstream, não duvido de que se a Globo apoiasse, não haveria essa crítica, ou pelo menos não tão agressiva, talvez...
    Será que meu post ficou "entendível"?

    ResponderExcluir