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Eae! Mais um conto pra oficina do E.L.F.A!
O conto deveria ter no máximo 500 palavras, com o tema sem tempo.
Decidi revisitar o universo de Aera. Espero que gostem! o/
A árvore vermelha
Eae! Mais um conto pra oficina do E.L.F.A!
O conto deveria ter no máximo 500 palavras, com o tema sem tempo.
Decidi revisitar o universo de Aera. Espero que gostem! o/
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(do universo de Aera, o mundo dos Deuses Ventos)
(histórias de Ka'aretama, as selvas do Sul)
(histórias de Ka'aretama, as selvas do Sul)
Jaguará irrompeu por entre as árvores, ofegante.
– E então? – perguntou.
O Xamã estava de costas e se voltou devagar, com olhos cansados. Nas mãos, um tacape banhado em sangue. Gotas pingavam no solo úmido.
– Eu falhei, irmã-mais-nova – sua voz estava rouca com o peso da culpa – Pyrangussú morre...
– Não... – ela arregalou os olhos negros – O inverno é daqui a duas semanas! E se... E se tentarmos mais prisioneiros?
O Xamã a interrompeu.
– Não, irmã-mais-nova. Eu... Não consigo mais fingir – e jogou o tacape ao chão.
Atrás dele jazia um guerreiro com a cabeça fendida, numa poça de tinta e sangue, um prisioneiro da guerra das tabas. Runas de poder cobriam seu corpo, mas seu sangue não foi suficiente para alimentar Pyrangussú, assim como os outros antes dele.
Estavam no jardim secreto da cidade de Jombyá. O local era o refúgio de Pyrangussú Grã-Vermelha, uma gigantesca sumaúma de madeira rubra, consagrada ao Vento da Guerra. Suas raízes-tábuas eram maiores que a altura de dois homens, e runas de proteção poderosíssimas foram esculpidas em seu tronco áspero. Mas a árvore estava desfolhada e seca.
O Xamã apontou para o alto.
– Ela só possui mais uma única folha, e quando ela cair, a árvore morrerá... Foi minha culpa, Jaguará, eu traí nossa nação – e baixou os olhos – Pyrangussú nasceu do tacape ensanguentado do nosso patriarca, e foi alimentada por todos os Xamãs que vieram antes de mim. Mas eu...
– Mas... – interrompeu a guerreira – Você alimentou a árvore com o sangue de incontáveis prisioneiros!
– Cada vida que Pyrangussú bebe, acrescenta-lhe mais anos de vida, uma folha para cada ano. Há um segredo, porém, que apenas os Xamãs conhecem: este sangue deve ter poder. Eu enganei vocês com sacrifícios inúteis, pois Pyrangussú precisa de sangue forte: do filho do Xamã de Jombyá.
– Mas você nunca teve...
Um vento frio soprou do norte com um terrível presságio, e o Xamã se voltou com olhos urgentes.
– Jaguará, não há tempo, o inverno chega e a folha logo cairá! Ouça: Pyrangussú é a Relíquia mais poderosa desta região, e sua proteção alcança muitos igarapés de distância. Você sabe que se não fosse assim os ventos do inverno já teriam devastado a cidade e as tabas dos homens. Mas Pyrangussú morre, e sinto que os demônios do vento se aproximam. Eu traí nosso povo para que você vivesse, e os traio de novo para mantê-la a salvo... Fuja agora!
– Mas eu...
E um vento soprou do norte, a direção do inverno, e a última folha de Pyrangussú Grã-Vermelha caiu.
E então os ventos aumentaram.
– NÃO! – gritou o Xamã desesperado, erguendo as mãos e invocando poder – O inverno já chegou! Vá, minha filha! Criarei uma trilha segura pelo portão sul da cidade, fuja até igarapés protegidos! Vá! Que minha morte pague minha traição!
As árvores do jardim vergaram, e o urro do vento preencheu tudo.
Sem tempo para pensar, Jaguará correu.
E o inferno a seguiu.
– E então? – perguntou.
O Xamã estava de costas e se voltou devagar, com olhos cansados. Nas mãos, um tacape banhado em sangue. Gotas pingavam no solo úmido.
– Eu falhei, irmã-mais-nova – sua voz estava rouca com o peso da culpa – Pyrangussú morre...
– Não... – ela arregalou os olhos negros – O inverno é daqui a duas semanas! E se... E se tentarmos mais prisioneiros?
O Xamã a interrompeu.
– Não, irmã-mais-nova. Eu... Não consigo mais fingir – e jogou o tacape ao chão.
Atrás dele jazia um guerreiro com a cabeça fendida, numa poça de tinta e sangue, um prisioneiro da guerra das tabas. Runas de poder cobriam seu corpo, mas seu sangue não foi suficiente para alimentar Pyrangussú, assim como os outros antes dele.
Estavam no jardim secreto da cidade de Jombyá. O local era o refúgio de Pyrangussú Grã-Vermelha, uma gigantesca sumaúma de madeira rubra, consagrada ao Vento da Guerra. Suas raízes-tábuas eram maiores que a altura de dois homens, e runas de proteção poderosíssimas foram esculpidas em seu tronco áspero. Mas a árvore estava desfolhada e seca.
O Xamã apontou para o alto.
– Ela só possui mais uma única folha, e quando ela cair, a árvore morrerá... Foi minha culpa, Jaguará, eu traí nossa nação – e baixou os olhos – Pyrangussú nasceu do tacape ensanguentado do nosso patriarca, e foi alimentada por todos os Xamãs que vieram antes de mim. Mas eu...
– Mas... – interrompeu a guerreira – Você alimentou a árvore com o sangue de incontáveis prisioneiros!
– Cada vida que Pyrangussú bebe, acrescenta-lhe mais anos de vida, uma folha para cada ano. Há um segredo, porém, que apenas os Xamãs conhecem: este sangue deve ter poder. Eu enganei vocês com sacrifícios inúteis, pois Pyrangussú precisa de sangue forte: do filho do Xamã de Jombyá.
– Mas você nunca teve...
Um vento frio soprou do norte com um terrível presságio, e o Xamã se voltou com olhos urgentes.
– Jaguará, não há tempo, o inverno chega e a folha logo cairá! Ouça: Pyrangussú é a Relíquia mais poderosa desta região, e sua proteção alcança muitos igarapés de distância. Você sabe que se não fosse assim os ventos do inverno já teriam devastado a cidade e as tabas dos homens. Mas Pyrangussú morre, e sinto que os demônios do vento se aproximam. Eu traí nosso povo para que você vivesse, e os traio de novo para mantê-la a salvo... Fuja agora!
– Mas eu...
E um vento soprou do norte, a direção do inverno, e a última folha de Pyrangussú Grã-Vermelha caiu.
E então os ventos aumentaram.
– NÃO! – gritou o Xamã desesperado, erguendo as mãos e invocando poder – O inverno já chegou! Vá, minha filha! Criarei uma trilha segura pelo portão sul da cidade, fuja até igarapés protegidos! Vá! Que minha morte pague minha traição!
As árvores do jardim vergaram, e o urro do vento preencheu tudo.
Sem tempo para pensar, Jaguará correu.
E o inferno a seguiu.
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Arte do conto: autor da foto desconhecido, alterado por mim.
Uau!!! Esses contos pequenos são muito fortes e despertam muita curiosidade! Agora tô aqui doida pra sabe o que aconteceu com o povo da cidade de Jombyá e com a Jaguará após fugir! Aguardo a continuação!!
ResponderExcluirUai, não tinha visto o comentário!
ExcluirBrigadão, Bia :D