domingo, 12 de abril de 2020

[Conto] Webshell

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Exercício que fiz pro grupo de escrita da Revista Mafagafo.

O objetivo era tentar descrever a mesma cena duas vezes, uma em 1ª pessoa e outra em 3ª pessoa.


Aproveitei e trouxe de volta a hacker Gabrielle Wang, protagonista de outro conto e uma das principais da série Crônicas da Guerra dos Muitos Mundos (ainda acho um link permanente pra revista).


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Webshell
(do universo da Guerra dos Muitos Mundos)


Fodeu.

Tô sem algemas, mas não posso me mexer. Tô na droga de um corpo de soldado, mas os músculos... Merda, tão usando daqueles códigos paralisantes.

Não devia ter invadido sozinha. Putamerda, quando finalmente hackeei um avatar! Tento me virar, mas só meus olhos se mexem.

Uma luz forte, paredes sujas imitando um filme ruim... Fedor. Putaqueopariu, nem numa cyber-realidade os figli di troia sabem ser criativos. Até as merdas que Marco programa fazem isso aqui...

Cazzo, cazzo, alguém entrou, não dá pra ver.

São dois. Não fode, policial bom e mau? Cyber-fascista é tudo burro mesmo. Se um deles vier com "quero te ajudar", eu juro...

— Gabriele Wang — começou o menor deles. — Hacker do AnarchItalia, procurada há cinco anos por cyber-terrorismo e mais de cem invasões ao Sacro Governo Italiano.

Hahahahaha, se isso é tudo o que sabem, são mais burros do que...

Um tapa.

Meu rosto arde e crispo os dentes de ódio. O outro é grande, e não tá fingindo que não quer me matar.

— Não ria — sorriu o primeiro —, seu rosto pode se mexer. Meu amigo aqui é sem paciência, mas, olha, eu quero te ajudar...

Cuspo na cara dele. Verdade, posso mexer o rosto.

O fingimento desaparece, e ele ergue a mão.

Minha cyber-consciência borra quando sinto centenas de agulhas rasgarem minha pele. Nem o código paralisante me impede de gritar.

Aos poucos, a sala volta ao foco; a luz forte, um cheiro merda de cigarro. Eu tô ofegante e... O maior estremeceu ao olhar pra mim?

— Signorina Wang. Temos torturas piores, e não acho que alguém se importaria se queimarmos sua consciência por acidente.

Tento cuspir de novo, mas dessa vez congelaram meu rosto.

— Ah, vamos repetir?

Ele ergue a mão, e eu crispo os dentes.

<<<>>>

O local de interrogatório foi programado como uma prisão dos anos 2.100.

Quando os policiais entraram, trocam olhares exultantes. Wang não era peixe pequeno, estavam à sua procura há anos — e agora ela hackeava avatares? Promoção na certa!

O menor usa um avatar amigável, como aquele senhorzinho que dá bom dia na rua. O outro está vestindo um brutamontes com cara de psicopata, do tipo que sorri quando você grita. Convencer e intimidar.

A prisioneira vestia o soldado que ela mesma hackeou, deitada sobre a maca. O menor se aproxima e lista as acusações.

Quando ela sorri de deboche, o parceiro a estapeia — ele adorava aquela função. O primeiro volta a interpretar, mas ela cospe, acertando seu olho.

Ele odeia quando eles cospem. Ele dá a ordem, e enquanto Wang grita por cinco minutos, ele acende um cigarro. Quando acaba, o parceiro estremece de forma desconfortável. Estranho. Ele também gostava dos gritos.

Seguindo o protocolo, ele ameaça com códigos piores. Claro, ela tenta cuspir de novo.

— Ah, vamos repetir? — disse, com um sorriso que não combinava com seu avatar.

Mas o parceiro ergue a própria pistola e aponta pra ele.

— Pietro, o que voc...?

A cabeça explode, espalhando miolos, tanto ali quanto no mundo real. Mesmo congelado, o rosto de Wang é um misto de alívio e medo.

O grandalhão se aproxima, e sorri.

— Cê ainda me fode, ein, sorella! Mari, na escuta? Puxa a gente!

Wang olhou incrédula o avatar de... Marco?

— Cazzo, sério? Cê deixou o código aberto no computador! Levei um tempo, mas consegui invadir pouco depois deles rodarem a tortura. Agora cê hackeia avatares? Cê é um gênico, putamerda, mas, na próxima, vê se não faz as coisas sozinha!

Um bip, e suas cyber-consciências retornaram pra casa.


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Arte do conto: texto aleatório criado por mim mesmo, com ajuda do site Hacker Typer
Website: https://hackertyper.net//

Um comentário:

  1. Muito massa...me fez lembrar de Matrix!! Curti o jeito mais informal das falas e o toque italiano. Gostaria de conhecer mais sobre essa Itália e sobre essa personagem. Abraços!

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