sábado, 14 de abril de 2018

[Mini-Conto] O Horror das Terras Selvagens

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Finalmente, um conto maior que 100 palavras!


Este conto também nasceu do desafio do E.L.F.A. (grupo de escrita do face), e o desafio era escrever um conto de até 500 palavras, com o tema da imagem, até o dia de hoje.

O conto saiu com 500 palavras e postei no último dia. Clássico!

Espero que gostem :D


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O Horror das Terras Selvagens


– Você veio.

Os lábios escamosos da fera se moviam de forma estranha, mas as frases vieram claras, reverberando na rocha do penhasco.

Já a princesa de pele negra, diminuta diante do monstro de muitos olhos e muitos dentes, cujos caninos eram maiores do que ela própria, sustentou o brilho das diversas pupilas fendidas.

– Sim – disse – A despeito do que o arquissacerdote tenha profetizado, mantenho minha promessa.

A fera gigante rugiu baixo – ou teria sido um suspiro? As árvores tremeram com seu hálito.

– Akiodé está certo, porém – disse – Você é sangue do meu sangue; sua promessa não importa, você não pode me matar.

– Mentira – disse ela, os olhos embargados – Descobri coisas que até Akiodé desconhece. Quando você se tornou o Horror das Terras Selvagens, jurei que romperia a maldição, e é isso que vim fazer!

– As Terras Selvagens precisam de um Horror, Ogabí – respondeu a fera – É o que mantém a proteção dos deuses. Só ficarei livre quando o herdeiro de Sosso me matar e se tornar o novo Horror, mantendo o ciclo. Você não tem esse poder... Eu aceitei meu destino; você devia aceitar o seu e governar nossa gente.

– Pai – disse ela, lágrimas escorrendo de seus olhos nervosos – Sosso nos traiu, e disse que não entregará seu príncipe para a maldição.

As dezenas de olhos se arregalaram.

– Compreendo – sussurrou a fera – Acho... que eu sempre soube que aconteceria. Apenas o sangue de Sosso pode tomar a maldição de mim; o fardo do Horror será então para sempre meu? Caçarei nossas tribos até que meu espírito se despedace e sobre apenas a fera! Que destino amargo os deuses...

– Para o inferno com os deuses! – gritou ela – Akiodé mentiu! Os templos mentiram! Porque você acha que o Horror não pode atacar as terras sagradas? Não foram os deuses que o criaram, foram os templos! Por isso eu vim!

O monstro se afastou, a confusão em seus olhos.

– Mas minha maldição só pode ser quebrada por Sosso...

– A maldição não seria quebrada por Sosso, mas perpetuada. O único jeito de quebrá-la é fazendo justamente o que os sacerdotes nos proibiram!

Mas então a fera estremeceu, as inúmeras pupilas se arregalando com um instinto assassino.

– Vá, Ogabí, a loucura está voltando – rugiu – Não quero matá-la!

Ela sorriu em meios às lágrimas.

– Eu já morri, pai. Tomei o veneno da trompeta-púrpura antes de vir, um veneno tão poderoso que também irá envenená-lo quando me devorar.

– Não! – rugiu a fera, tremendo, tentando controlar a loucura que o acometia.

– O único jeito de quebrar a maldição é com um sacrifício para o Horror, dado voluntariamente, pelo sangue do seu sangue – sorriu ela.

Mas a angústia fez as forças do monstro falharam, e sua mente foi inundada com o instinto demoníaco. Ela ainda sorria quando ele atacou.

Todos os reinos das Terras Selvagens ouviram o uivo de morte, e sentiram o tremor de terra quando a maldição centenária foi quebrada.

O Horror das Terras Selvagens finalmente morrera. A religião seria a próxima.


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Arte do conto: Fearless, por Disse86 (©2015-2018 Disse86).
Website: https://disse86.deviantart.com/

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